Negócios de uma pessoa só

 

Talvez você sonhe em ter uma grande empresa, com muitos funcionários. Mas pode ser que para chegar lá você tenha que começar pequeno, aos poucos, sozinho — e isso é totalmente possível. De acordo com dados recentes da Receita Federal, o Brasil tem 13,69 milhões de Microempreendedores Individuais (MEI). São pessoas que empreendem por conta própria ou que contam com no máximo um empregado. Enquanto alguns entram no mundo do empreendedorismo por vontade, outros mergulham ali por necessidade.

Muitos empreendedores começam sozinhos e ao longo do tempo expandem os negócios

É o caso de Silvia Pessoa, 41 anos, fundadora da marca de confeitaria afetiva que leva seu nome. Moradora de Ceilândia (DF) e técnica de enfermagem por formação, ela estava fora do mercado de trabalho desde que a filha nasceu. Sua trajetória como empreendedora começou em dezembro de 2016, quando o marido perdeu o emprego. “Minha filha estava com três anos. Comecei a vender doces e salgados. A princípio eu não tinha dinheiro, não tinha batedeira, não tinha formas. A cada bolo que vendia, pegava o lucro e investia em materiais. Tenho muito orgulho de dizer que tudo aqui é fruto do meu trabalho”, lembra ela, que começou de maneira informal dentro da cozinha da própria casa.

No ano em que o marido passou desempregado, Pessoa conseguiu pagar as contas domésticas com o trabalho que fazia. Naquela época, ganhou uma bolsa integral em um curso profissionalizante de confeitaria e notou que os doces tinham mais saída do que os salgados em seu negócio. Isso a fez focar nos bolos. “Foi um divisor de águas na minha vida. Depois do curso, abri meu CNPJe comecei a divulgar meus produtos nas redes sociais. De lá pra cá, fui aumentando a carteira de clientes e ganhando mais experiência”, comemora ela. Aos poucos, diz que conseguiu adequar a cozinha com uma geladeira para uso exclusivo do negócio, um forno, um micro-ondas, três batedeiras, formas e todos os itens necessários para criar e decorar seus bolos e doces por encomenda.

“Após aquele período, o meu marido encontrou um novo emprego. Então consegui ter asas para enxergar o que eu fazia como um negócio, e não como sobrevivência. Eu decidi ser uma empreendedora, uma confeiteira profissional. Decidi parar de ‘contar moedinhas’ e ter capital de giro”, afirma. A determinação de Pessoa a levou a fazer graduação em gestão empresarial, curso no qual se irá se formar em julho.

Curso de especialização em confeitaria mudou o rumo dos negócios da empreendedora

Ao longo do tempo, ela notou dificuldade em precificar os produtos e divulgar a marca. Foi assim que procurou o apoio do Sebrae-DF e participou de consultorias para sanar todas as dúvidas. “Eu não tinha muita noção da área empresarial, mas queria transformar meu negócio, mesmo sendo algo artesanal. O Sebrae ajudou a definir preços de venda e a organizar a contabilidade. Também fizemos o layout da produção: veio uma engenheira de alimentos aqui para me auxiliar como ficaria melhor produzir no espaço que tenho. Tudo isso abriu a minha mente”, revela Pessoa, que vem de uma família de servidores públicos. “Eu fui a única que resolveu empreender. Nadei contra a corrente”, brinca.

Mesmo com as dificuldades da pandemia, Pessoa viu o negócio crescer, especialmente na Páscoa, um dos períodos mais produtivos e prósperos para a confeiteira ao longo do ano. Em 2021, vendeu 150 ovos de chocolate. Em 2022, dobrou o número. Outro ramo em que ela atua e que tem começado a dar sinais de melhora são os casamentos e festas de 15 anos. “Quando há muito trabalho, contrato um freelancer por um período. Mas no geral sou eu mesma que atendo clientes, faço orçamentos, produção e entrega. É uma vida corrida, mas fico muito feliz de trabalhar com isso”, finaliza.

Empreenda sozinho

Se você quer embarcar no empreendedorismo solo mas não faz ideia do tipo de negócio que poderia abrir, a primeira dica é observar o mercado consumidor e as necessidades do local onde você vive. “É preciso analisar muito a região. Cada lugar tem um tipo de demanda diferente. Quando você conhece bem o mercado em que está inserido, consegue alinhar a solução ao perfil do cliente”, alerta Fabiana Pincelli, consultora do Sebrae-SP. “O empreendedor deve pensar: ‘O que posso ofertar para esse consumidor?’ ou ‘O que tornará meu negócio diferenciado em relação à concorrência?’. É importante sair da caixa, deixar de fazer mais do mesmo”, ensina Pincelli. Outro ponto crucial é a formalização da sua empresa. “Isso ajuda a crescer. Muitas empresas pequenas só conseguem vender para certos públicos se puderem emitir nota fiscal”, diz.

A seguir, confira ideias da consultora do Sebrae-SP para você começar um negócio sozinho:

1. Serviços
A prestação de serviços oferece amplas oportunidades de negócio para quem deseja trabalhar sozinho. Um bom ramo para levar em consideração é o B2B (“business to business”), ou seja, a prestação de serviços da sua pequena empresa para outra pequena empresa. É uma forma de usar a área de conhecimento que você domina para ajudar outros empreendedores no negócio deles. Por exemplo: você pode oferecer serviços de contabilidade, planejamento financeiro, marketing digital, comunicação, design, TI e desenvolvimento de aplicativos, entre outros. Lembre-se: a qualidade do serviço prestado e o atendimento ao cliente (seja ele outra empresa ou pessoa física), é sempre um diferencial.

2. Alimentação
Segundo Pincelli, durante a pandemia, o segmento de alimentação teve um boom de novas pequenas empresas. As marmitas saudáveis, por exemplo, fizeram muito sucesso. Isso porque elas se mostraram uma solução prática para as pessoas que estavam em home office e não podiam perder tempo preparando refeições. Observe as tendências do mercado e invista em boas soluções que atendam as necessidades do seu cliente, sempre de olho no que ainda não está sendo tão explorado.

3. Artesanato
Se você tem dons manuais e gosta deste tipo de trabalho, pode iniciar seu negócio solo nesta área, dentro da própria casa. Hoje em dia há várias opções de plataformas de vendas online que permitem alcançar diferentes nichos de público.

4. Vendas online ou revendas
Atuar com a revenda produtos de outras marcas ou fazer parcerias com sites de vendas para ajudar na distribuição de produtos também são boas opções para empreender sozinho. Pesquise as margens de lucro que você pode obter, informe-se sobre as marcas que você pode representar e escolha as que se adequem melhor ao seu perfil e ao público a que você tem acesso.

Fonte: Revista Pequenas empresas e Grandes negócios